sábado, agosto 30, 2008

Gatos e gravidez - Incompatíveis?




Quando uma mulher engravida ou está a pensar em ficar grávida, o seu médico assistente propõe-lhe uma bateria de análises para averiguar o seu estado de saúde. A detecção precoce de alguma alteração é possível em tempo útil tomar medidas preventivas ou tratamento adequado para o estado da mulher.

Um dos exames que as grávidas são submetidas é a titulação de anticorpos Anti-toxoplasma. Se o teste é positivo, significa que a mulher, em algum momento da sua vida, contactou com o agente da Toxoplasmose. O drama vem quando o teste é negativo e a mulher é dona de gatos.



Mas afinal o que é a Toxoplasmose?


A toxoplasmose é uma doença parasitária provocada pelo Toxoplasma gondii. Este parasita tem 2 tipos de hospedeiro: o hospedeiro intermediário, como o porco, vaca e o Homem, onde se encontra enquistado em vários órgãos tendo um tropismo especial pelo tecido muscular; e um único hospedeiro definitivo , o gato, no qual habita no intestino e liberta oócitos nas fezes do mesmo ou também se pode enquistar noutros órgão por migração errante.


Porque é que o Toxoplasma gondii só tem o gato como hospedeiro definitivo?



A “escolha” do Toxoplasma baseia-se no tropismo para intestino felino, constituindo este um lugar que reúne todas as condições para a diferenciação sexual do toxoplasma intracelularmente e, como tal, poder realizar reprodução sexuada resultando, por esta via, os oócitos que serão libertados para o exterior através das fezes.


Como é que ocorre a infestação com Toxoplasma gondii?


Existem 2 formas de infestação, uma é pela ingestão de carne mal passada ou crua de porco ou vaca que contenham quistos e a outra é pela ingestão dos oócitos libertados nas fezes do gato.


Quais os sinais clínicos de alerta nos gatos?



Os sinais clínicos no gato são por vezes muito inespecíficos pois poderão dar sinais transitórios gastrointestinais ( como vómito, diarreia ) , mas também, devido à sua capacidade migratória e errante para outros órgãos, como músculo, olho, cérebro, vísceras, pode surgir febre, corrimento ocular, alterações respiratórias, letargia, depressão, anorexia, tremores, ataxia, paralesia, icterícia e natos mortos em fêmeas gestantes.


E no Homem, quais os sintomas?


Nos humanos com sistema imunitário competente, normalmente não apresentam qualquer sintomatologia, por vezes a toxoplasmose é confundida com uma simples gripe.


No caso das pessoas com o sistema imunitário comprometido, como os doente de S.I.D.A., pode-se desenvolver uma forma de doença mais grave, já que as defesas estão em baixo.


Se a mulher for infectada durante a gravidez, a mulher pode passar a doença ao feto, desenvolvendo este problemas graves ao nível do sistema nervoso central e ocular.


Qual o período de maior risco para a mulher gestante?



O período de maior risco é o primeiro trimestre da gravidez e, como tal, deve-se realizar o teste antes da gravidez ou o mais rapidamente possível, ou seja, assim que souber que está grávida.


Que teste é realizado à mulher grávida e que respostas posso adquirir com ele?


O teste é um teste de detecção de anticorpos anti-toxoplasma. Existem 2 tipos de anticorpos que serão testados que permitem determinar se a infecção é recente ou antiga: IgM e IgG.


Os IgG estão relacionados com infecções antigas ou passadas, são como anticorpo de memória que registam a passagem do parasita pelo organismo. Através do valor da titulação dos IgG, o seu médico assistente dir-lhe-à mais ou menos se a infecção foi há mais de 6 meses ou menos, sendo que se for há mais de 6/9 meses é quase improvável que seja novamente infectada, pois a infecção não será reactivada durante o período da gravidez.


Os IgM são anticorpos de primeira linha, ou seja são o que estão accionados no presente e como tal poder-se-à dizer que houve contacto recente com o Toxoplasma gondii ou temos infecção, dependendo esta determinação a partir do valor da titulação para IgM.


É através da correlação dos valores de titulação dos IgG e IgM que o seu médico assistente irá determinar há quanto tempo contactou com a doença e se esse contacto é recente ou antigo.


Que teste poderá fazer o meu gato?



Existem 2 testes que poderá realizar em Portugal.


Um dos testes que poderá realizar é através da colheita de amostra de fezes 3 dias consecutivos, conservando-as refrigeradas até à expedição para o laboratório.


Este teste permite determinar se o gato, neste período, está ou não a eliminar oócitos nas fezes. No entanto é muito limitado, pois podemos apanhar uma fase não excretora e o animal estar infectando na mesma e o teste dá negativo. O único resultado que acertado é o positivo, onde vemos oócitos a serem eliminados nas fezes.


O outro teste é muito semelhante ao realizado nas mulheres com a colheita de uma amostra de sangue. No entanto em Portugal, não existe a diferenciação entre IgG e IgM, o que torna o resultado positivo um quebra-cabeças para o veterinário assistente, no entanto baseamo-nos nos valores de titulação para um diagnóstico definitivo.


Segundo os especialistas, em Portugal, a Toxoplasmose tem estado a diminuir na população felina, pois os gatos cada vez mais estão a ser mais gatos de casa e a sair menos à rua, comem ração e não carne crua e estão mais bem vacinados e desparasitados. O que faz com que a maior parte dos resultados cuja titulação de anticorpos anti-toxoplasma em gatos, quando baixa poderá até ser positivo para a mulher, já que se trata de infecções antigas e a excreção nas fezes dos oócitos é muito limitada aos primeiro dias de infecção. Como tal, significa que este gato, que é positivo, tem pouquíssima probabilidade de voltar a eliminar oócitos nas fezes e dificilmente volta a ser novamente infectado.


Já o caso dos gatos negativos, dever-se-à ter cuidados para que não sejam infectados durante o decurso da gravidez.


Que cuidados devo ter com o meu gato seronegativo?



Coisas simples como não dar carne mal passada ou crua e alimentos crus aos gatos, não deixar que eles vão há rua e contactem com gatos errantes e/ou fezes destes, não deixar que o seu gato coma insectos – promovendo o controlo das pragas e mudar a areia todos os dias com luvas ( ou pedir a alguém que a mude por si) lavando com água fervente a caixa da areia ( muito importante, pois os oócitos para serem infectantes precisam de estar no exterior 3/5 dias e são termolábeis), podem fazer a diferença. De referir que é pouco provável que os oócitos fiquem no pêlo dos gato, já que eles fazem a sua limpeza diária muito exaustivamente, logo dificilmente o contacto com o pêlo do gato pode ser considerado de risco elevado, no entanto aconselho sempre a lavagem das mãos após a manipulação do gato.


Que outros conselhos dá a uma mulher grávida que tenha um gato?


- Bom senso e ponderação na decisão a tomar em relação ao seu animal de estimação;


- Fale com o seu médico veterinário assistente sobre o que pode fazer, medidas preventivas e testagens ao seu gato;


- Tirar todas as dúvidas, não deixe nunca de perguntar, esclareça-se bem! A maior parte dos abandonos dos gatos deve-se à má e destorcida informação sobre a Toxoplasmose;


- Lavar bem os alimentos crus ( vegetais, frutas) e manipule-os sempre com luvas;


- Prefira vegetais cozidos aos crus e coma fruta descascada;


- Coma carne sempre bem passada e não manipule nem coma carne crua ou mal passada;


- Lavar sempre bem as mãos sempre antes de comer ou após manipulação de material suspeito;


- Não beber leite sem ser pasteurizado;


- Não beber água que não seja tratada nem de fontes;


- Não faça jardinhagem ou mexa em terra sem luvas.



sexta-feira, agosto 29, 2008

Caso Clínico 21/08 - Ferida com destacamento de pele na cabeça e pescoço dum cão



Apresentou-se à consulta no Centro Veterinário de Estremoz um cão podengo médio, com peso corporal 14 kg, chamado Brados, com uma ferida muito grande que implicava a face lateral e parte do pescoço do cão com destacamento da pele. Por sorte, trata-se de um ferimento ligeiro, pois os músculos encontravam-se intactos sem lacerações, somente a pele e tecido sub-cutâneo sofreram destacamento dos restantes tecidos adjacentes com produção de pouca hemorragia.


Foi desbridado os bordos da feridas e consequente sutura com pontos simples.


Hoje já se viu a sutura, que aparentemente está a evoluir bem, apesar do grande destacamento de pele poder ainda comprometer a boa cicatrização da mesma.

Vou actualizando o caso, postando a evolução do Brados.

Caso Clínico 19/08 - Piómetra fechada numa cadela após injecção abortiva (II)


Esta é a Fofinha veio tirar os pontos da sutura, está a recuperar bem.

Caso Clínico 18/08 - Sarcoma de Sticker numa cadela (III)



Esta é a Princesa na última sessão de quimioterapia, correu tudo bem só falta daqui a 2 semanas ser reavaliada e se tudo tiver a correr bem tem alta.

quinta-feira, agosto 28, 2008

Resultado do Inquérito - 06/08




Em relação à questão " que parasita é este que é tão temido pelas grávidas?", todos os participantes acertaram: trata-se do Toxoplasma gondii.


Muito obrigada pela vossa participação e espero a vossa votação no próximo inquérito.

sexta-feira, agosto 22, 2008

Site da Dra. Addie

Para saber a informação mais actualizada sobre o PIF (peritonite infecciosa felina), aconselho a consulta deste site: www.dr-addie.com.

Existe uma tradução em Português deste site.

quarta-feira, agosto 20, 2008

Vacinação em gatos


A vacinação constituí a melhor arma para o controlo e prevenção de doenças infecciosas. No caso dos felinos existem no mercado vários tipos de vacinas que poderão ser administradas. A escolha da vacina a administrar é feita em conjunto com o veterinário assistente que saberá quais as doenças infecciosas felinas para as quais o seu gato deverá ser vacinado de acordo com a região e a adaptar o esquema que melhor se adequa para cada caso em concreto.

Que vacinas é que recomenda?

Existem 2 vacinas que, na minha opinião, deviam ser administrados em todos os gatos saudáveis : a vacina Trivalente - que protege o gato contra os principais agentes infecciosos responsáveis pelo Sindrome Respiratório Felino ( calicivirus e herpesvirus), bem como contra panleucopenia felina que provoca gastroenterites hemorrágicas muito graves - e a vacina contra o virus da Leucose Felina ou FeLV.


Qual o esquema de vacinação felina que recomenda?

Os gatos podem ser vacinados a partir dos 2 meses de idade, realizando um 2º reforço passado 3 a 4 semanas do 1º reforço efectuado. Após a primo-vacinação a vacina começa a ser administrada anualmente por enquanto, já que há estudos que nos indicam que a imunidade oferecida pelas vacinas de hoje em dia é mais douradoira que um ano, podendo atingir os 3 anos. Como ainda se encontra em discussão a validade imunológica das vacinas, continuo a recomendar a vacinação anual dos gatos.

As vacinas que recomendo são a Trivalente e a Leucose Felina, sendo administradas separadamente quando eles são gatinhos.

A vacina da raiva também pode ser dada nos gatos, sendo em alguns países de caractér obrigatório, podendo ser administrada a partir dos 3 meses.


E nos gatos adultos? Qual o esquema que recomenda?


Nos gatos adultos deve-se realizar o teste de despite de FIV e FeLV sempre antes de serem vacinados, pois só assim podemos adaptar o protocolo ao animal em questão.


Gatos saudáveis com historial de terem sido vacinados podem fazer um reforço único e depois reforços anuais.

Quando não se sabe do historial vacinal de um gato saudável, o melhor é jogar pelo seguro e fazer o mesmo esquema que se aplica aos gatinhos.

Por razões económicas, existem pessoas que só querem fazer a vacina Trivalente porque o seu gato não contacta com outros gatos e está sempre em casa. No entanto, só o facto dos donos o trazerem à clínica para a vacina já estão a expor, indirectamente, o seu gato a vários vírus, incluindo o FeLV. Portanto a vacinação contra a Leucose Felina torna-se muito importante e imprescindível.

Um gato saudável que no teste dê FeLV positivo, não necessita de ser vacinado contra a Leucose Felina, pois em alguma fase da sua vida contactou com o virus e encontra-se naquele momento em equilíbrio com o vírus. Pode ser vacinado mas é uma despesa desnecessária para o dono. Nesta situação administro somente a Trivalente.

O caso muda de figura quando o gato é saudável mas que é positivo ao FIV. Aqui, desaconselho a vacinação contra a FeLV, já que a administração da mesma poderá provocar uma imunossupressão. No entanto a administração da Trivalente é de extrema importância para que o animal não fique doente com alguma destas doenças que poderão surgir secundariamente a uma diminuição do sistema imunitário.

No gato saudável (?) que é FIV e FeLV positivo, procede-se da mesma forma que no caso de um gato FIV positivo.


Que esquema de administração de vacinas em gatos utiliza?



Na vacinação dos gatos utilizo o esquema recomendado pelo A.V.M.A. ( www.avma.org/vafstf ) que sugere:

- A administração das vacinas em gatos deve se feita o mais possível pela via subcutânea e não intra-muscular;

- Utilizar outras vias de administração de vacinas, se possível, sem ser pela via injectável – como por exemplo a intranasal;

- Após a administração das vacinas deve-se realizar por escrito o local onde se deu, lote, marca e qual a valência da vacina;

- Notificar o fornecedor do aparecimento de reacções anómalas

- Administração de vacinas com trivalência simples : Membro Anterior Direito

- Administração de vacinas contra o vírus do FeLV sozinha ou com outras valências: Membro Posterior Esquerdo

- Administração de vacinas contra a raiva ou associada a outras valências: Membro Posterior Direito


Porquê seguir estas recomendações?

Estas recomendações vêm ao encontro da necessidade de diferenciação da valência das vacinas com o aparecimento no local de inoculação das mesmas de fibrosarcomas vacinais. Para além de ter uma componente prática importante na remoção do tumor, já que torna-se muito difícil a extracção do mesmo com boas margens na zona do pescoço ( zona onde ainda alguns veterinários dão vacinas subcutâneas a gatos) , bem como é um tumor muito invasivo a nível muscular.

Aos fibrosarcomas estão associadas as vacinas que contenham as valência FeLV e raiva. No entanto a probabilidade de um gato ficar com fibrosarcoma depois de ter sido vacinado contra o FeLV é muitíssimo mais baixa do que a probabilidade de apanhar FeLV por não estar vacinado. Já para não dizer que é raro a ocorrência de fibrosarcomas vacinais.


Como se distingue uma reacção inflamatória vacinal normal de um fibrosarcoma?



A distinção entre reacção inflamatória no local de inoculação da vacina de um fibrosarcoma é muito importante para que não haja alarmismos desnecessários por parte dos donos.

Por vezes após a vacinação do seu gato poderá desenvolver-se no local de inoculação da vacina um matulozinho que por vezes dói ao toque. É rara, mas pode acontecer, normalmente é uma reacção inflamatória passageira que deverá desaparecer espontaneamente em 3 a 5 dias.

O fibrosarcoma é uma formação dura, infiltrativa, irregular que vai aumentando ao longo do tempo, podendo aparecer vários em outros locais ( metástases ). Persiste mais do que 3 meses, diâmetro maior que 2cm e aumenta de tamanho 1 mês após a administração da vacina.

Como se diagnostica o fibrosarcoma e qual o tratamento?

Para o diagnóstico de fibrosarcoma realiza-se uma biopsia e exame histopatológico.

O seu tratamento passa pela sua excisão/extracção, no entanto como é muito infiltrativo podemos não conseguir removê-lo por completo, sendo as recidivas muito frequentes. A quimioterapia e radioterapia também se podem realizar, mas o prognóstico é tão reservado como o cirúrgico.

terça-feira, agosto 19, 2008

Trombiculose - Trombicula autumnalis



Que parasita é este?


É muito provável, se for veterinário, que após a realização de uma raspagem de pele de uma lesão ligeiramente crostosa e de cor alaranjada ( parece polén), próximo da raiz do pêlo do animal ou - em situações mais avançadas - em vesiculas, que se tenha deparado com este parasita e não se recorde do seu nome.

Este parasita dá-se pelo nome de Trombicula autumnalis e é um parasita que passa a maior parte da sua vida como parasita das plantas e outros artropodes, havendo uma fase da sua vida ( fase larvar) em que alimenta do plasma de animais. A infestação ocorre quando o animal passa num chão contendo ovos de Trombicula e estes sobem para o pêlo e pele do animal. Esta é uma doença sazonal cuja maior prevalência ocorre no final do Verão e princípio do Outono , em climas temperados , ou ao longo do ano se for uma região quente.


Quais os sinais da Trombiculose?



A Trombicula autumnalis provoca grande comichão, piodermatites autotraumáticas, formação de vesículas, pápulas e eritema sobretudo nas zonas de contacto com o chão: membros, patas, cabeça, orelhas, região abdominal e inguinal. Há animais que desenvolvem letargia, anorexia e vómito devido à irritação cutânea que sofrem, bem como este parasita pode provocar depressão do sistema imunológico.


Como se diagnostica a Trombiculose?


Para o seu diagnóstico basta uma raspagem de pele e observação ao microscópio para diferenciar este parasita dos ácaros ou até das carraças chumbinho (ninfas). É extremamente fácil: a Trombicula autumnalis tem só 3 pares de patas enquanto que os ácaros e as carraças têm 4 pares de patas.

Ácaro responsável pela sarna sarcóptica - Sarcoptes scabei - repare nos 4 pares de patas



Carraça - Rhipincephalus sanguineus




Ácaro responsável pela sarna demodécica - Demodex canis, cuja forma do corpo já de si é diferenciadora


Ácaro responsável pelas otites parasitárias - Otodectes sp.



2 exemplares de Trombicula autumnalis


O exame macroscópio de formas arrendondadas laranja brilhantes junto à raiz do pêlo, fazendo lembrar polén, revela a um olho experiente a existência deste parasita, no entanto aconselho sempre a sua identificação ao microscópio.


Qual o tratamento para a trombiculose?

O tratamento para a trombiculose é o banho com peróxido de benzoílo, óptimo para todos os casos de ectoparasitismo e a aplicação de ampolas ou spray que igualmente são utilizados na prevenção de pulgas e carraças ( ter atenção de respeitar o intervalo entre o banho e a aplicação da ampola!) - como é o caso fipronil ( spray ou spot-on) ou permetrinas.

Quando existe já piodermatite, aconselho o uso concomitante de antibiótico, anti-histamínicos e pomadas hidratantes. Por vezes o uso de colar isabelino é importante para evitar o auto-traumatismo. O uso de anti-inflamatórios à base de cortisona deve ser feito com bom senso, já que a Trombicula autunmalis provoca imunodepressão e deve ser dado em períodos de 2-3 dias no máximo.

Se o meu animal de estimação tiver trombiculose pode passá-la a mim ou ao meu outro animal de estimação?

A doença é autolimitante, ou seja, não afecta os outros cães nem as pessoas, só o próprio animal, como no caso da demodecose.

No entanto recomendo a lavagem da cama ou colcha onde o animal dorme e desinfecção, bem como a implementação de medidas higiénicas normais da rotina diária do seu animal.

Caso Clínico 20/08 - Erosão da córnea por pragana


Esta é a Debbie uma Fox Terrier de pêlo cerdoso que se apresentou à consulta com blerarospasmo, conjuntivite muito intensa e corrimento ocular purulento. Na consulta foi lavado o olho com soro fisiológico e detectou-se uma pragana espetada na conjuntiva.

A Debbie foi sedada para se proceder à extracção o mais atraumática possível da pragana.

Fez-se o teste da fluoresceína que deu positivo, verificando-se erosão da córnea provocada pelo contacto com a pragana.

A Debbie foi com colar isabelino e medicada com antibiótico, anti-inflamatório não esteroide e n-acetilcesteína que ajuda na regeneração da córnea.

Caso Clínico 18/08 - Sarcoma de Sticker numa cadela (II)



Esta é a Princesa na 3ª semana de tratamento, como se vê o tumor praticamente desapareceu, só falta mais uma sessão e a Princesa acaba a quimioterapia.

Caso Clínico 17/08 - Proptose do olho (II)

Lembram-se da Mimi, que teve proptose do olho? Ela voltou à clínica para mostrar o seu progresso.




Estas fotos foram tiradas 1 semana após o início do tratamento



Hoje quando tirámos os pontos



Hoje, já foi para casa sem pontos, mas continua com colar, pomada e gotas no olho. Teve uma boa evolução já que mexe muito bem o olho parece não ter sofrido lesão a nível dos ligamentos.

Caso Clínico 10/08 - Amputação de extremidade do membro (XII)


19/08/2008

Caso Clínico 19/08 - Piómetra fechada numa cadela após injecção abortiva

Apresentou-se à consulta uma cadela de raça indeterminada com peso corporal de 13 kg, de seu nome Fofinha, com história de à cerca de 3 semanas ter levado uma injecção abortiva depois de um encontro casual com outro cão. A dona foi alertada para todos os riscos que daí podiam advir e se detectasse algo suspeito ( corrimentos vaginais anormais, vómito, prostação e anorexia) para voltar à clínica.

A dona contactou-me telefonicamente a dizer que ela andava muito tristonha e que fazia o xixi normal seguido por várias tentativas de urinar, no entanto urinava às pinguinhas uma urina mais espessa muito mal cheirosa e lambia muito a vulvinha. Recomendei vir à consulta para ser observada.

No exame físico a temperatura rectal estava normal apesar de estar no limite máximo 39,1ºC, rosada, sem corrimentos vaginais aparentes e à palpação abdominal detectou-se a presença de uma massa em forma cilindrica. Após esta detecção realizámos uma ecografia, que nos confirmou a presença de piómetra fechada com marcação de cirurgia de urgência.

O útero cheio de conteúdo muito irregular, confirmando a suspeita.


Realizou-se uma OVH


Ruptura da parede uterina para se ver o seu conteúdo, suspeito que o xixi às pingas mais espesso fosse o primeiro sinal de infecção uterina, que a dona de início associava a uma infecção urinária.


As piómetras fechadas são muito mais dificeís de diagnosticar comparada com as piómetras abertas em que há um verdadeiro corrimento vaginal. As piómetras fechadas têm normalmente sinais muito inespecíficos - quebra no estado geral - e pouco patognómicos. Este é um exemplo que uma boa história clínica e um bom registo clínico do animal poderá fazer a diferença.

A Fofinha foi para casa com antibiótico, anti-inflamatório, colar isabelino e betadine tópico na sutura.

sexta-feira, agosto 15, 2008

Dirofilariose - o verme do coração



O que é a dirofilariose?

A dirofilariose é uma doença parasitária provocada por um parasita de seu nome Dirofilaria immitis, que é transmitida pela picada do mosquito. É uma doença inflamatória ao nível do coração e da vasculatura pulmonar.

Qual o ciclo de vida da Dirofilaria immitis?

Os mosquitos infectam-se ao ingerirem sangue de cães afectados com dirofilariose, através da ingestão das microfilárias ( formas juvenis da dirofilaria ). Dentro do mosquito as microfilárias vão sofrendo transformações sucessivas até ao seu estado infectante, indo-se depositar nas glândulas salivares do mosquito. Este mosquito ao picar um novo animal vai libertar esta forma infectante no sangue deste novo animal. Estas larvas vão fazer uma migração no organismo do animal, até atingirem o seu local de maturação onde atingem a estado de adulto: no ventriculo direito do coração e artéria pulmonar. Quando em adultos se encontram dirofilarias machos e fêmeas eles reproduzem-se, dando origem as microfilárias circulantes que aguardam, na circulação sanguínea, ser sugadas por um mosquito para reiniciar o seu ciclo de vida.

Quais são os sinais de dirofilariose?

Os sinais são muito variáveis, de modo que, em veterinária, classificamos a doença em classes de acordo com a severidade da sintomatologia.

Classe I - Doença sub-clínica


- teste positivo à dirofilariose;
- sem sinais clínicos evidentes;
- exame físico normal;
- Rx torácico sem alterações;
- testes laboratoriais normais.


Classe II - Doença moderada

- teste positivo à dirofilariose;
- intolerância moderada ao exercício e/ou tosse ocasional;
- boa a suficiente condição geral;
- Rx torácico com alterações moderadas ao nível do ventrículo direito e artéria pulmonar , com consequente aumento do tamanho dos mesmos;
- Possibilidade de ocorrência de anemia moderada, eosinofilia.


Classe III - Doença severa

- teste positivo à dirofilariose;
- sinais clínicos evidentes: intolerância significativa ao exercício, stresse respiratório, tosse persistente, ascite ( acumulação de líquidos na cavidade abdominal por insuficiência cardíaca direita e consequente congestão hepática); anorexia e perda de peso;
- estado geral mau a moderado, aumento dos sons respiratórios, reflexo da tosse facilmente provocado, distensão da veia jugular, aumento do tempo de repleção capilar e mucosas pálidas;
- Rx: aumento bem visível do ventrículo e átrio direito, alargamento das artérias pulmonares, evidência de trombo-embolismo pulmonar;
- valores elevados de ureia, creatinina e das enzimas hepáticas.


Como se faz o diagnóstico da Dirofilariose?

Numa fase inicial só através de um teste sanguíneo é que podemos saber se o seu cão tem dirofilariose. Existem vários testes, como os testes rápidos que em 10 minutos dão um resultado, como também podemos fazer esfregaços de sangue e o teste da gota a fresco, no entanto estes 2 últimos temos de ter em atenção à distinção entre microfilárias propriamente ditas e dipetalonema que são muito similares. Se estes últimos testes forem positivos dever-se-à realizar um teste para distinguir se são microfilárias ou dipetolenema, pois o tratamento e prognóstico são totalmente diferentes.


Microfilária
Distinção entre microfilária e dipetalonema

Qual o tratamento para a Dirofilariose?

O tratamento vai depender em muito dos sintomas apresentados, normalmente os cães que se enquadram na Classe I e na Classe II devem ser tratado com adulticida - melarsomina HCL - com a administração de 2 injecções com 1dia de intervalo. Poder-se-à associar ao tratamento medicação própria para o coração como benazepril ou digitálicos para melhorarem a condição cardíaca do animal, bem como de medicação anti-trombos para os animais com suspeita de trombo-embolismo. Também poderão ser administrados protectores hepáticos e renais, anti-anémicos, bem como alterar a alimentação para uma ração baixa em sódio. No final do tratamento adulticida inicia-se o tratamento microfilaricida com a administração de ivermectina, sendo o animal nesse dia internado na clínica para observação e prevenção do choque anafilático.


Na Classe III a resolução deste problema passa pela intervenção cirúrgica para a remoção das dirofilárias adultos do coração e das artérias pulmonares.

Como posso prevenir a Dirofilariose?


Existem 2 formas. A mais segura é a administração mensal de milbemicina oxima, o que aconselho vivamente em zonas endémicas. A outra forma é a ivermectina oral mensal, no entanto para a administração desta deverá fazer o teste da dirofilariose antes da sua administração pois poderão ocorrer situações de trombo-embolismo no caso de ser positivo e ter dirofilárias adultas.

O desenvolvimento completo das dirofilárias ocorre em seis meses, portanto considero ser importante a realização do teste pelo seu cão só a partir dos 6 meses de idade, até lá aconselho a aplicação mensal de uma ampola repelente de insectos , como o Pulvex ® ou a Advantix ® ou a colocação de uma coleira repelente de insectos como a Scalibor ®.

Resultados do Inquérito - 05/08




À questão do último desafio lançado no inquérito “ que doença parasitária é esta?” , todos os participantes acertam trata-se da dirofilariose. A dirofilaria immitis é um parasita que na sua forma adulta vive no coração e na artéria pulmonar, tendo a forma de larvas e é transmitida pelo mosquito duma forma semelhante à leishmaniose. A anaplasmose é uma bactéria e o seu meio de transmissão é a carraça. Mais uma vez agradeço a participação e conto convosco para um novo desafio.

Caso Clínico 15/08 - Resultado da biópsia


O resultado da biópsia efectuada ao pólipo intravaginal retirado à Princesa na altura da OVH veio como fibroma ou leiomioma, ambos tumores benignos da vagina. Como a Princesa tinha o útero com quistos endometriais, o diagnóstico definitivo é Leiomioma que aparece em simultâneo à hiperplasia endometrial quística do útero.




O Leiomioma é um tumor do tecido muscular liso podendo aparecer em vários órgãos como esófago, estômago, recto e vagina. Pode ter 2 apresentações uma intra e outra extraluminal, sendo a forma intraluminal a mais fácil de resolver, pois aparecem massas em forma de pólipo que são facilmente removíveis, enquanto que a forma extraluminal é mais difusa nos tecidos e mais infiltrativa bem como é mais difícil de alcançar cirurgicamente.


O tratamento deste tumor é a OVH da cadela afectada, já que o leiomioma vaginal é hormono-dependente, podendo haver recidivas caso só se remova a massa, deixando a cadela intacta, ou seja, por esterilizar.

quarta-feira, agosto 13, 2008

Caso Clínico 18/08 - Sarcoma de Sticker numa cadela



Apresentou-se à consulta a Princesa uma cadela de raça indeterminada com peso corporal de 5,800kg com uma massa na vulva.

Após observação da mesma constatou-se que se tratava de um Sarcoma de Sticker. A massa tinha, antes do tratamento, 4 cm de comprimento e 3,8 cm de largura.

Os donos estavam no início reticentes em fazer a quimioterapia, mas após um único tratamento ficaram impressionados com os resultados.


Só com um tratamento com vincristina a massa reduziu para 1,8 cm de altura e de comprimento, estando já menos friável ao toque.

A Princesa irá efectuar mais 2 sessões de quimioterapia, depois vou postando a sua evolução.

sexta-feira, agosto 08, 2008

Demodecose canina ou sarna demodécica




A demodecose canina é uma doença parasitária da pele e pêlo dos cães causada pelo ácaro da família Demodex sp. que habita no folículo piloso.


Quando é que o meu cão está mais exposto?

Existem 2 alturas onde há maior exposição: na altura em que o cão ainda é cachorro e o ácaro é transmitido pela mãe aquando a amamentação, aparecendo os primeiro sinais nos lábios, à volta do nariz, focinho e orelhas; ou em adultos quando existe uma quebra da imunidade do animal – por exemplo stress, mudança de ambiente/dono, febre, doença interna debilitante como: hipotiroidismo, hiperadrenocorticismo, neoplasia, leishmaniose ou tratamento imunossupressores como a quimioterapia.

Que tipos de demodicose existem? Quais os seus sinais clínicos?

Existem 2 formas de demodecose: uma forma localizada e outra generalizada.

A forma localizada ocorre normamente em cachorros entre os 3 e os 6 meses de idade apresentado uma ou várias lesões circunscritas, eritematosas sem pêlo ao nível do focinho, à volta dos olhos, na margem das orelhas, bordos dos lábios e no nariz, bem como ao nível dos membros. Esta forma normalmente tem um curso benigno e cura-se facilmente através da aplicação tópica de acaricidas e o pêlo cresce passado 30 dias.

Na forma generalizada deve-se diferenciar, por sua vez, em demodecose generalizada em cachorro ( sendo a idade mais propício para o seu aparecimento entre os 3 meses e os 18 meses de idade ) e em adultos ( a partir dos 2 anos de idade sendo muito mais difícil de tratar).

Designa-se demodecose generalizada quando afecta a face e pelo meonos 2 membros. As lesões são de seborreia intensa, aumento dos gânglios periféricos, piodermatite secundária, foliculite profunda com exsudado e crostas. A seborreia generalizada é mais frequente em cães de raça pura.

Como se faz o diagnóstico da demodecose?

O diagnóstico mais viável para a detecção de ácaros da família Demodex sp. através de uma raspagem profunda – até sangrar, pois o demodex habita no folículo piloso, que se localiza numa camada profunda da pele, onde passam vasos sanguíneos.

A observação ao microscópio das várias formas do ácaro ( ovo, ninfa, ácaro adulto ) e em grandes quantidades do mesmo na raspagem, considera-se o resultado positivo.

Como se trata a demodecose?

O tratamento e estratégia a tomar varia de situação para situação, sendo o veterinário assistente o seu maior aliado.
No caso da demodecose localizada a aplicação de uma pipeta acaricida poderá resolver o problema. No entanto, no caso da demodecose generalizada o tratamento torna-se um desafio para o veterinário.

Ter em atenção que no caso da demodecose generalizada em adulto, devendo-se proceder à identificação e tratamento das doenças subjacentes que o animal tem e que lhe fez baixar a imunidade e, no caso da quimioterapia, dever-se-à baixar as doses ou até mesmo realizar pausas maiores entre sessões. Só assim, com a causa primária controlada é que o tratamento para a demodecose se torna mais eficaz, tratando-se da mesma forma a forma generalizada juvenil.

Existem várias estratégias para travar o demodex. Banhos com amitraz diluído, comprimidos de milbemicina oxima em doses altas, injecções de ivermectina e aplicação tópica de pipetas acaricidas. Só o seu veterinário assistente poderá ver qual o tratamento se adequa melhor para o caso do seu animal pois existem muitos factores que podem ser proibitivos para o uso de alguns tratamentos em determinadas raças de cães, tamanho toy, zona a tratar e custo de cada tratamento.

Independentemente da decisão do acaricida a usar, o seu veterinário assistente poderá adicionar à terapêutica: antibióticos ( para piodermatites secundárias), anti-histaminicos ( para a comichão), anti-inflamatórios ( mas nunca cortisona), estimuladores da imunidade, banhos com peróxido benzoilo ( seborreia ) ou pipetas anti-seborreias, ácidos gordos ómega 3 e 6, zinco, selénio, vitamina A para regeneração mais rápida da pele e do pêlo ( com a duração de 1 mês).

A demodecose pode se transmitida às pessoas? E os meus outros cães , também podem apanhar se tiverem em contacto com ele?

A demodecose canina não é transmitida nem às pessoas nem a outros cães, é uma doença intrínseca do cão e da quebra da imunidade geral do mesmo.


Como evitar a demodecose canina?


Boas práticas de higiene das instalações e das mães dos cachorros, devendo estar bem vacinadas e desparasitadas diminuindo o risco de transmissão aos filhotes de forma drástica. Estas normas também se aplicam aos cães adultos

E os gatos, também podem ter sarna demodécica?

Sim, mas o tratamento acaricida deve ser adaptado aos gatos, já que eles são muito sensíveis a alguns tratamentos que para os cães são inofensivos.

quarta-feira, agosto 06, 2008

Caso Clínico 17/08 - Proptose do olho


Esta é a Mimi que apresentou-se à consulta com proptose do globo ocular, devido a atropelamento. A proptose ocular é a designação utilizada para a protusão do olho.

No caso da Mimi, ela teve de ser sedada para se proceder às manobras para recolocação do olho no seu local, para isso foi colocada uma compressa embebida numa solução hipertónica ( de glucose ) para produzir um efeito osmótico com redução do edema da conjuntiva e do globo ocular.

Primeira manobra efectuada, já quase todo o olho reposicionado

Reposicionamento do olho completo

Após as manobras, o olho regressou à sua posição normal, tendo sido necessário recorrer à sutura das pálpebras de modo a que o olho não saia novamente de sítio.

Sutura do olho

Para casa levou colar isabelino e medicação apropriada para reduzir o edema, a inflamação e infecção.

Já com a sutura completa e colar isabelino